terça-feira, 3 de março de 2009

FAUSTO WOLFF, O ÚLTIMO PROVOCADOR, Antero Leivas


“Marx escrevendo sobre dinheiro é como padre falando sobre sexo.”
Paulo Francis
“Não confio em produto local. Sempre que viajo, levo meu uísque e minha mulher.”
Fernando Sabino
“Só se escreve para provocar um amigo, conquistar uma mulher ou ganhar muito dinheiro.”
Ivan Lessa
“A unanimidade comporta uma parcela de entusiasmo, uma de conveniência e uma de desinformação.”
Carlos Drummond de Andrade
Não existe nada de complementar errado no mundo, mesmo um relógio parado consegue estar certo duas vezes por dia.
Paulo Coelho
Hoje, a internet é uma mescla de informação úteis com lixo repetido e reciclado.
Fernando Vallejo
“Mais difícil do que ter uma grande idéia é reconhecer uma. Especialmente se for de outra pessoa.”
Washington Olivetto
“A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar, ao amigo, de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades.”
Millôr Fernandes
“Ontem tive a impressão que Deus quis falar comigo. Não lhe dei ouvidos, quem sou eu pra falar com Deus? Ele que cuide de seus problemas que eu cuido dos meus.”
Paulo Leminski
“Prefira afrontar o mundo servindo a sua consciência, a afrontar a sua consciência para ser agradável ao mudo.”
Humberto de Campos

“Outro dia quase bati as botas. Fechado o expediente, fiquei bebendo uísque enquanto olhava o mar. À medida que bebia, mais o mar se agitava, me agitando também. Tive uma idéia genial e voltei ao computador, mas – vejam só – não conseguia escrever as frases direito. Era sempre aprotaledo pelas pavrolas”.

“Nem todo escritor é jornalista, agora em tese todo jornalista é escritor. Se não escreve romances, escreve contos ou crônicas e críticas para algum jornal ou revista e que um dia serão compiladas e transformadas em livro. Então, todo jornalista é escritor.
E escritores à antiga estão todos morrendo. E o que é um escritor à antiga? Ah, simples: um clichê tão clichê quanto o artista que vende a alma ao diabo. Escritor à antiga é aquele sujeito parcial que trata o computador feito máquina de escrever, que vive escravo dos prazos de entrega, xingando editores e amando aquilo que faz. Escritor à antiga acredita naquilo que escreve, vive pedindo adiantamentos por livros que não sairão nunca ou demorarão séculos para sair do Word para as páginas impressas. Ou isso, ou escreve quando quer e como quer porque já está velho e não tem paciência para prazos de entrega, mas que se for sua coluna num site, jornal ou revista, ele os segue à risca.
Escritor à antiga vive duro, um tanto quanto mal barbeado, às vezes esquece de trocar a camisa e anda deprimido pelas oníricas paisagens do lugar onde mora. Escritor à antiga escolhe o lugar onde quer morar. E morrer.
Fausto Wolff morreu onde queria. Ou viveu onde queria, não faz diferença. E como caberiam palavrões aqui, mas a publicação não carece...
Porque escritores à antiga (não terminei de enumerar) bebem aos borbotões, fumam pelos cotovelos e falam desbragadamente (ou vice-versa).
Fausto Wolff, bom ou mau, era o último escritor à antiga, Fausto Wolff não, Faustin Von Wolffenbüttel, esse carioca de Santo Ângelo, Rio Grande do Sul, começou como repórter policial aos 14 anos de idade, dirigiu filmes, peças, fez história com O Pasquim, deu aulas de literatura no Brasil e no mundo e, é claro, nasceu e morreu jornalista. E, conseqüentemente, escritor. E é com gente como ele que aprende-se que Bukowsky era fichinha diante de tamanha sabedoria etílica.Tá,podia não ser fichinha, mas certamente olharia o velho alemão do Rio de Janeiro com uma mal disfarçada reverência.E perderia por uma dose ou duas.
Não sei se o prêmio Jabuti com que esse Fausto, dono da própria alma, foi agraciado, pelo romance À Mão Esquerda, conferia-lhe ares clássicos de escritor, ou mesmo se a literatura se ressente de sua falta tanto quanto o jornalismo. Sim. Porque o jornalista é escritor, mas não se enquadra em gêneros literários. O Wolff não. Acho que além dele, outro gaúcho, este um gaúcho não carioca, gaúcho, gaúcho, porém menos jornalista e mais escritor que ele, Luis Fernando Veríssimo, um dia fará falta no jornalismo opinativo brasileiro. E o Veríssimo que fique calmo, não estamos aqui agourando ninguém. Apenas relacionando nomes vitais para arte da Pensante Escrita Nacional (PEN, um dia eu fundo o partido). Quase parelho, outro grande nome também se foi: Fernando Barbosa Lima. Este, inclinado à televisão, vestia televisão, respirava televisão. O Wolff transitava pela TV de vez em quando, mas o negócio dele era digitar em frente ao mar. Sabem como é, daqueles escritores que escolheu seu lugar onde morar e morrer, repetimos. E morava em frente ao mar. E bebia em frente ao mar. Era de uma safra de cariocas nativos. Além de escrever plenamente adaptado à Internet, caso raro para um gigante (literalmente) de 68 anos. Tempo completo da vida deste marginal por profissão.
A crônica carioca acabou. E não é exagero não, onde estão os cronistas cariocas? O jornalismo romântico morre com ele... Sem pieguice, cacetes, onde está o jornalismo romântico? E jornalismo romântico quem é, sabe, não é jornalismo babaca, politicamente correto, que elogia música e livro pra receber presentes em casa, que elogia filmes pra ganhar exclusividade na entrevista, que escreve em cima do press-release e leva a fama de moderrrno. Jornalismo romântico é antipático, por vezes grosseiro, fala palavrão, sente dor no peito, acorda de ressaca, se apaixona por um tema, enche o saco dos outros, é anti-social, não gosta de crianças, é sexista, precipitado, discursivo ou lacônico, dependendo do momento. E morre com as dores de sua própria irresponsabilidade, pois não há nada mais romântico do que morrer por suas paixões. A paixão pelos amigos, pela cerveja e pelo uísque, pelos cigarros, os malditos cigarros assassinos e adoráveis, pelas mulheres e pela crônica pena de crônicas deslavadamente incorretas.
Da política ao cotidiano, passando pelo cinema e o ------ a quatro. Por favor, ponham um palavrão na linha pontilhada. E o Wolff era daqueles que não precisava de linha pontilhada. Ele pregava o “do contra”, aproveitando a brecha, havia um senão no estilo dele: o datado engajamento, hoje quase uma lenda urbana, pra não dizer, nulidade olvidada. Embora usasse Internet fluentemente, como um bebê de três anos, não aceitava a globalização. E num globo não cabem extremos. Nem esquerda, nem direita, capitalismo/comunismo, discursos amassados, heróis ou vilões... Ocasionalmente, Fausto não apresentava ser muito original, contudo, este escritor-jornalista, com cara de vilão do 007, temperava sua arte com um ingrediente mui raro: LIBERDADE . Será que um dia precisaremos de linhas pontilhadas para escrever essa palavra também?
Se ele estivesse vivo, provavelmente não daria a mínima pra nada do que foi escrito aqui. Como todo jornalista escritor e crítico, ele manteria sua fama de mau. Fama esta que desabaria em questão de minutos no fascínio de um boteco em Ipanema ou na pérola de sua página no JB. Um brinde à Fasto Wolff, infelizmente, o último de sua linhagem. Ou penúltimo, se eu for pouco modesto.”
Este artigo foi selecionado por mim, para fazer uma justa homenagem de fim de ano a sete jornalistas amigos: Luis Mello, Bonfim Salgado, Corrêa Neto, João Silva, Renivaldo Costa, Douglas Lima e Carlos Lobato. Todos convidados a acender o cachimbo da paz. Cachimbo Italiano e fumo Inglês. Correto Bonfim???.
Wagner Gomes

wagnergomesadvocacia@uol.com.br
wg_ed.wagneradv@hotmail.com

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